quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Sessão 'Revisitar Michael Polanyi'

25 Março de 2014:
Revisitar Michael Polanyi: o passado e o presente da 'República da Ciência'

Mesa Redonda c / Gilson Leandro Queluz, Mário Lopes Amorim, Luiz Ernesto Merkle.


Breve introdução
Michael Polanyi (1891-1976)
Michael Polanyi (1891-1976) nasceu judeu húngaro, numa família de classe alta, formando-se pela Universidade de Budapest. Passará à Alemanha (Karlsruhe e Berlim), acabando por emigrar para a Grã-Bretanha devido à ascensão de Hitler. Figura que deixou contribuições em várias áreas, da física e química à economia e à filosofia. Fará carreira na Universidade de Manchester e será professor visitante em diversas universidades (eg Chicago, Stanford, Oxford). Conhecido pelos seus contributos para a filosofia da ciência, nomeadamente por ter teorizado sobre o conceito de conhecimento (tácito, explícito ou codificado, nomeadamente em Personal Knowledge: Towards a Post-Critical Philosophy (1958). Foi também protagonista num debate importante sobre a liberdade da comunidade científica, polemizando com J. D. Bernal durante os anos 30 e 40, contra as lógicas de organização da ciência, publicando inclusive uma série de artigos em The Contempt of Freedom (1940) e em The Logic of Liberty (1951). Irmão de Karl Polanyi, autor do célebre estudo The Great Transformation. The Political and Economic Origins of Our Time (1944). 
Michael Polanyi foi assim um químico proeminente, importante filósofo e sociólogo da ciência na história do pensamento ocidental – embora algo esquecido nos tempos que correm. Vem aliás já noutro contexto histórico e cultural a primeira tradução em português da sua obra (Eduardo Beira, 2013). As circunstâncias do seu pensamento são diferentes ontem e hoje. No passado o peso da história teve sem dúvida uma influência assinalável nas suas posições. Tanto o contexto histórico como o cultural alteraram-se dramaticamente. A onda neoliberal, cavalgando as últimas reminiscências da identidade europeia, bem como a assunção generalizada dos pressupostos e princípios de uma globalização anglo-saxónica, vem ameaçar o edifício da ciência ocidental na sua matriz cultural europeia. Na história da ciência, Polanyi é sobretudo referido pelos historiadores como individualidade que polemizou com John Desmond Berna, deixando crítica contra o planeamento / ‘planificação’ central de todo o género, incluindo a área da investigação científica e tecnológica – Polanyi, aliás, opunha-se à visão científica do materialismo dialéctico e do regime soviético. Destacou-se no debate público por se posicionar como um defensor da liberdade científica, esse espírito livre de inquirição, e do auto-governo da ciência, essa capacidade de auto-regulação que os mecanismos da República da Ciência proporcionariam, nomeadamente por via de uma avaliação entre pares assente no critério do interesse científico. Polanyi veio então, no significativo contexto dos anos 30 e depois no segundo pós-guerra, alertar senão mesmo denunciar uma mudança na opinião pública relativamente à visão que prevalecia sobre a ciência e o conhecimento de uma maneira geral. Assume então uma posição pelo amor ao conhecimento per si, pela busca da verdade, e denunciando a postura de utilidade perante o conhecimento, defendendo que as considerações “utilitaristas” não cabiam nas preocupações do verdadeiro cientista – configurando-se nele aquela que permanecerá para muitas gerações a posição clássica da 'torre de marfim'.
 

Leitura obrigatória
  • POLANYI, Michael, 2013. Ciência e Tecnologia. Uma selecção de textos, tradução de Eduardo Beira, IN+ Center for Innovation, Technology and Public Policy, Inovatec (Portugal).
Bibliografia adicional
  • BERNAL, John Desmond, 1939. The Social Function of Science, Routledge, 1946 (1.ª ed. 1939).


Formato:
Breves intervenções de 5-10 minutos, seguindo-se debate alargado.
Duração 2 horas.